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07/05/2013

[Report] Restless Tour @ LineUp Bar 02-05-2013

Quis o destino que o LineUp Bar em Alcântara assistisse de perto a este quarteto de trovadores que transpiraram rythm and blues por todo o lado… O Ritz Clube mais uma vez «fechou para obras» subitamente, e esta foi a solução de última hora. Um espaço bem mais reduzido mas por sua vez mais familiar, decorado a preceito: estávamos numa casa de rock.
A Restless tour, com apenas três datas, passou pela capital na passada quinta-feira, dia 2, numa noite que muitos se recordarão pelo feito benfiquista, de chegar à sua nona final europeia de futebol. Desconheço as cores clubísticas dos mestres de cerimónia, mas a verdade é que de forma algo previsível, se deu uma abébia ao público encarnado de chegar um pouco mais tarde (para passar pelo Marquês possivelmente).

À porta já se juntavam algumas pessoas quando a carrinha da tour chegava. Não havia espaço para dúvida face aos autocolantes bem visíveis . A Restless tour estava pronta para arrancar em Lisboa, 200 km e algumas horas depois de ter iniciado na cidade de estudantes e doutores.

Sam Alone
O LineUp tornou-se uma fonte de calor humano. O público aderiu ao chamamento e encheu o recinto. O hardcore de outras andanças, do Bruno Simão (Cast a Fire) e Apolinário «Poli» Correia (Devil in Me), foi deixado de parte numa sessão que relembra uns sessentas com QB de letras Dylanescas, de guitarra e por vezes com direito a harmónica, marcadas pelas suas experiências pessoais e por alguma perspectiva ideológica.
Fast Eddie Nelson 
Despidos de arranjos e composições demasiado enfeitadas, o Folk inspirado num imaginário Mississipiano fez-se soar muito graças à dupla Fast Eddie Nelson e Roy Duke, na guitarra eléctrica e no contra-baixo. Dotados de uma noção de ritmo que escapa demasiado à atenção mediática, deram provas a este público que o movimento rockabilly está vivo e de boa saúde. E é importante referir que não se resume a este exemplo em concreto dos Texabily Rockets (ex-Rockers) de Roy Duke, que estão à muitos anos nesta vida a par de outros tantos.

The Fellow Man
Fast Eddie Nelson trouxe algumas os melhores licks de guitarra que alguma vez saíram do Barreiro. Um show que por vezes atingia um nível quase religioso, num gospel bem american style, que na sua voz rouca transportava-nos para um imaginário de cowboys regados a whisky e cigarros Marlboro. O que é certo é que foi uma sessão de rock’n’roll puro e duro com o quarteto em sintonia, e mesmo quando arriscava a solo, ritmo era coisa que nunca faltou.
The Fellow Man, Bruno Simão, veio carregado de acordes simplistas e foi responsável pelos momentos mais bonitos da noite. Num registo mais calmo e sentido, partilhou-se temas escritos para a sua filha («Baby Girl»), Carolina, em que a entrega e o brilho no olhar apenas poderá ser compreendido a 100% por quem saiba o que é poder afirmar com toda a certeza « (...) you are the sweetest thing in my life(…)». Pessoalmente, posso afirmar que fiquei com vontade de pegar na guitarra e debitar acordes para o meu príncipe… ( a paternidade tem desta coisas!)
Do mesmo EP «Of All the People», partilharam-se desgostos e corações partidos em «Own Way» com direito a alguns isqueiros… e que saudades dos isqueiros! Os telemóveis simplesmente não são a mesma coisa.
«Deliver Me» apela à união e é sem dúvida um single radiofónico e orelhudo. Um tema que descreve muito do que é o The Fellowman ( « (…) wish my best to the fellow man (..)») !
ainda houve tempo para dedicar um tema à rapariga mais bonita presente na sala ( nas palavras do próprio) - «Home to Me» fez certamente corar alguém. Aos restantes encheu o coração.
Dispensando apresentações, Poli com a sua working class rifle, não se distinguiu como um frontman assumido, como nos Devil in Me, e foi senhor de uma humildade suficiente para não ser o centro das atenções. O palco foi destes quatro senhores, e ninguém roubou protagonismo a ninguém – isto é um colectivo; isto é trabalhar em equipa.
No entanto, foi visível que o projecto Sam Alone é já bem conhecido na audiência e temas como «Youth in the Dark» e «Warm» foram cantados em coro, comprovando que o último álbum não agrada apenas a crítica.
Num registo que vai buscar muito de Johnny Cash e de Bruce Springsteen, sozinho em palco, partilhou momentos pessoais ( como a sua fuga adolescente em «January») e algum do discurso irreverente ao qual já nos habituou ao longo dos anos. O single mais recente «Little World» tem The Boss escrito por todo o lado. Repare-se que é um aspecto muito positivo! Um tema cheio de garra e mais ambicioso e menos minimalista que os restantes mas sempre com uma simplicidade.
Roy Duke
Pelo caminho houve tempo para agradecimentos a uma cara bem conhecida no mundo radiofónico português, e um dos padrinhos de muito belas bandas que por aí andam, Nuno Calado, apresentador do programa Indiegente da Antena 3 que tal como nós, Songs for the Deaf Radio, não podia perder este evento memorável. A poucos metros, e desta vez a assistir, os Gravediggers, banda que acompanha este Sam Alone em palco, foi também aplaudida acabando por um dos elementos (Matos) se juntar a esta festa de rock’n’roll.
Um dos momentos da noite vai para a inclusão algo inesperada de Andrew dos Comeback Kid, que iriam tocar na Républica da Música no fim-de-semana.
Sam Alone inevitavelmente fez ganhar a noite a muita gente pelo sentimento da familiaridade com os temas, mas o multifacetado vocalista não se encostou, deu um show de guitarra, harmónica e fez-me crer no termo Banjo-hero!
Quatro profissionais, amigos, cúmplices. A tocarem as músicas uns dos outros, partilharem palco, estrada e experiências. Quando as coisas assim são, é inevitável transparecer isso para o público. Naquele salão assistiu-se a um Poker de Ases.


Texto : Tiago Queirós
Fotos : Kitty Kat Kustom Art (a quem muito agradecemos a cedência das imagens)
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